Estou aproveitando as minhas férias entre quatro paredes, prova que (como eu sempre disse, aliás) dá para ser feliz em qualquer lugar. Acabei de fazer o treino que seu papai me passou e notei que já estou mais forte e ágil. Sabe essas chaleiras super pesadas que você vê seus papais usando para brincar? Ei! Acabo de perceber que estou escrevendo para a Florinha de hoje, a nenê que assiste os pais treinando - mas quem vai ler isso é a Flora menina que, aposto, terá seu próprio jogo de ketlebells, assim como seus kimonos. Enfim.
Mas posso te contar uma coisa que você não tem como descobrir por si só. É sobre o meu sonho recorrente, ou melhor dizendo, pesadelo. Acho que só contei isso na terapia, que me lembre. Inúmeras vezes eu sonhava que estava caminhando e 'queimando pontes' - isso significa que eu atravessava uma passagem e, por exemplo, deixava a escada cair, atrás de mim. Em outras palavras, eu traçava um caminho que não me permitiria retornar. Só me restava continuar.
Você vai me conhecer melhor, e descobrir que assim é que eu fiz a minha vida inteira: mudei de carreira, terminei relacionamentos etc. sem ter como desfazer os passos, nem mesmo mudar de ideia. De propósito, claro. Mas, nos pesadelos, eu sempre chegava a um ponto do qual era impossível prosseguir; e não tinha mais como voltar. Penhascos, buracos, pinguelas que faziam meu coração acelerar e, óbvio, me despertavam.
Em 2007, fiz uma viagem a São Jorge, aqui perto, na Chapada dos Veadeiros. Visitei uma montanha cercada de cristais cor-de-rosa, com uma guia muito bacana e esotérica, chamada Marie. Subimos escalando, abraçadas nas rochas, e eu comentei com ela que a gente tinha que parar porque eu não iria conseguir voltar. Era o cenário dos meus sonhos, a mesma situação! E ela só disse 'vai, sim'. Fomos até o alto, onde ela ficou meditando e eu flutuando em uma "banheira" de quartzo rosa - imagina a cena!
Voltei tranquilamente, agarrando cada pedaço de montanha. Em alguns ela me estendia a mão - mas eu não descia apoiando nela, e sim no meu corpo e na natureza. A mão da Marie era o estímulo, mostrava mais que tudo que ela havia conseguido, e eu também podia. Nunca mais tive o pesadelo.
Essa noite sonhei que tinha que passar por diversos obstáculos, atravessando compridas mesas de madeira com uma mão segurando um prato de comida e a outra apoiando nas vigas do teto. Tinha uma amiga minha estendendo a mão, mas era um gesto simbólico, ela não tinha como me ajudar realmente. E eu sabia que ia conseguir, se mantivesse a calma e confiasse na minha capacidade física.
Do outro lado, estava uma situação festiva do passado, e afinal eu consegui e me juntei a eles, amigos antigos. Algo que eu larguei e para o qual eu retornava, mas muito modificada. Não apenas na segurança corporal.
O que tem a ver essa história toda com os treinos que seu papai me passou? Tudo.
Meu filho é quem mais me instiga a pesquisar, descobrir, agir. Ele está milhões de quilômetros à minha frente, como imagino que você estará, daqui a vários anos, à frente dele. Hoje, tá aí na casa dos vovôs brincado de chuvinha com a tia Vi. Tá tudo ótimo.
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